quarta-feira, junho 13, 2012



Não é sempre que acontece. Aliás, é bem raro. Mas de repente, sem que eu percebesse, aconteceu algo comigo que me fez lembrar que eu ainda sou humano e que mesmo depois de tantos textos, inúmeros conselhos e horas de pensamentos introspectivos, eu ainda não sei lidar com isso.

Eu me apaixonei.

Na versão resumida, conheci uma pessoa engraçada, inteligente, extremamente divertida e uma companhia deliciosa. Saímos juntos algumas vezes, como amigos, para falar besteiras e dissertar sobre absurdos, divagar sobre abstrações impossíveis e filosofar sobre a vida. Eu sabia que ela gostava de uma outra pessoa, mas insisti em tentar. Olhei-me no espelho e vi um cara com diversas qualidades interessantes. Vi um cara que ela gostaria de ter do lado dela. Com um timing péssimo, numa situação desfavorável, os diversos beijos hoje parecem uma memória insólita que não devem se repetir, pois minha reação depois disso foi de querer te-la sempre por perto. Foi desejar estar com ela em todos os finais de semana subsequentes. Foi perceber, talvez, um certo desespero de causa em não arriscar deixá-la para algum outro idiota.

E aí eu cometi a tremenda asneira de dizer o que eu sentia. De dizer o quanto ela era importante para mim e o quanto ela me fazia querer ser uma pessoa melhor. Querer que o coração dela visse a mesma pessoa que eu via no espelho. Mas não é assim que a coisa funciona.

Se eu tivesse de aconselhar alguém nessa situação, diria para a pessoa calar a boca e resguardar-se num canto, permitindo que a outra pessoa tenha espaço para perceber o quanto a primeira é bacana, atenciosa e deseja estar do lado desta. Claro que eu tive um acesso de descontrole absurdo, afinal, isso raramente acontece comigo. Então aquele cara que está sempre seguro de si, virou uma criança de doze anos que fica puta com o mundo quando o pai não quer comprar o brinquedo mais legal da loja. Tive até um belo de um acesso de ciúme incoerente, culminando em mensagens de texto e um e-mail gigante. Tsc, tsc... bad move. Pessoas alcoolizadas não deviam ter acesso a celulares e internet.

Conclusão, hoje eu não sou a pessoa especial para ela que eu queria ser. Quando a vejo, a temperatura do meu estômago cai uns 15 graus. As conversas entre nós, parecem forçadas. Não sei mais o que dizer ou qual tópico abordar. E no fundo, dou razão para ela. Pois se eu beijo uma menina e de repente ela tem um acesso de ciúme dizendo que me adora, eu provavelmente pularia fora, achando que ela é psicótica. Eu tentei jogar, tentei ser o cara bacana que fica de longe olhando e aguardando, mas agora, me olhando no espelho, vejo um fulano que é péssimo nisso. E não é a primeira vez. É um erro recorrente.

Sendo assim, fui auto-sabotado pela minha boca aberta, meu coração mole e a esperança de ter do meu lado alguém com a qual eu teria uma fantástica cumplicidade. Alguém que eu me via ficar velhinho ao lado, mas que (espero que não) talvez se perca numa história de vida mal fadada. Porém, dizem que aprendemos com nossos erros. Eu sei que cresci e sei que me tornei uma pessoa melhor por causa dela, e só por isso já valeu a pena toda a dor e toda a ansiedade lancinante de beijá-la novamente.

Agora, quando me olho no espelho, eu deixo para aquele reflexo maduro um sorriso.
E um suspiro de saudade.

sábado, março 10, 2012



Um dia me disseram que somente as pessoas desesperadas se cadastram em sites de relacionamento. Numa outra ocasião, um amigo disse que era o lugar perfeito para conhecer mulheres, sem frescura e sem enrolação. Bom, ele já não transava há onze meses, então preferi acreditar na primeira teoria.

Depois do meu último relacionamento, por coincidência, azar, destino, maturidade ou mesmo chatice minha, não conheci mais ninguém que me interessasse de verdade. Uma mulher que fosse inteligente, divertida, carinhosa, sem mimimi, espontânea e sorridente. Todas elas tinham algo que realmente me deixava desconfortável ou me entediava depois de alguns dias. Ok, mentira, até conheci umas duas pessoas que me interessaram, mas elas não estavam interessadas em mim, daí dá na mesma. Isso faz quase cinco anos. Então, me aproximando do meu quinto aniversário de solteiro, analisei a situação friamente e decidi que eu me enquadro no perfil "desesperado" e me cadastrei em dois sites de relacionamento. Após três meses de uso, cancelei minha assinatura em ambos.

Esses sites não são para pessoas desesperadas. É pior que isso. Salvos raros casos, são pessoas que não têm a menor idéia do que é um relacionamento. São pessoas que, por mais que a sociedade diga o contrário, acreditam na magia cinematográfica do par perfeito, da alma gêmea, do príncipe encantado. Deixe-me clarificar com exemplos. Na questão "O que você mais ama?" algumas respostas me fizeram lívido. "Meus cabelos." Sim, o que ela mais ama no mundo são seus próprios cabelos. Como eu, mortal e humano, poderia competir com tantos cabelos? Os cabelos dela devem ser super simpáticos e certamente uma companhia agradabilíssima. Sansão não competiria com ela. Passei. Outra respondeu: "Minha filha canina." Achei bem sobrenatural uma mulher de 32 anos ter uma filha lobisomem. Não, espere, pode ser somente uma cadelinha que é o que ela mais ama no mundo. Eu também tenho cachorro (Petonho). Adoro o bichinho de paixão, mas certamente não é a coisa que eu mais amo no mundo. Acho preocupante uma pessoa amar um bichinho mais do que a própria mãe por exemplo. Próxima resposta: "Sexo e Beijo na Boca." Bacana, vou escrever para essa, mais superficial que piso de fórmica, mas sincera.

Dentre o tópico "Coisas que eu não consigo viver sem:" encontrei então uma enxurrada de incoerências. "Meus avós, meu cachorro e deus." Bom, linda, seus avós e seu cachorro vão durar pouco nesse mundo, considerando que a morte é parte do ciclo da vida. Então quando seus avós e/ou seu cachorro se encontrarem com Deus, como você não consegue viver sem eles você vai junto? "Não poder ter opinião própria." Porra, como assim? Você não consegue viver sem não poder ter opinião própria??? Ou seja, a dupla negativa infere que você adora ser uma pau-mandada. Ou gueixa! (checa as fotos e repara que ela é japonesa mesmo) Agora tudo faz sentido. "Celular, carro, dinheiro, casa, internet." Opa, sinceridade de novo, vou escrever pra ela.

Chegamos em "Como os meus amigos me vêem:" e a sinceridade desabrocha como uma caixa de papelão na chuva. "Engraçada, extrovertida, um pouco mentirosa". Fióta!!!! Com 36 anos na cara você afirma que mente na vida real e no perfil você põe a verdade!? É ao contrário que as pessoas fazem na internet!! "Morena". Não estou brincando, ela escreveu realmente "Morena". Que bom que seus amigos a descrevem assim. Como é a sua amiga? Morena. Mas como ela se comporta? Morena. Ela é gente boa? Não, é morena. Uau. "Como alguém que ama os animais mais do que si mesma" De novo os animais. Bom, faz sentido, afinal geralmente mulheres com esse grau de eloquência sentimental compram bichos e investem neles todo o amor concentrado no mundinho de fantasia que existe dentro delas, até mesmo mais do que si próprias. "Não tenho amigos." Nossa, que poço sem fim de depressão e tristeza. Não tem nem um tamagochi. Deve ser o perfil mais limpo do Facebook. Não vou escrever, mas vou dar add por piedade.

Sendo assim, depois de chafurdar na internet do amor por tês meses completos, percebi que ainda não estou no mesmo nível de desespero. Eu ainda tenho MILHAS de distância do patamar de "Alguém me ama pelo amor de Deus!!" que se propaga como um vírus agressivo nas milhares de páginas online. A internet não é uma caixa mágica que vai lhe poupar dos momentos awkward de conhecer alguém e garanto que o mundo lá fora de bares e baladas e festas é tão ruim quanto, mas eu ainda tenho fé que um dia eu irei encontrar a mulher imperfeita, por horas chata, por outras mal humorada, que me faça sorrir a toa. Até lá, continuarei saindo com aquelas pelas quais não me apaixonei, mas que sabem como me fazer sorrir de propósito.


quinta-feira, janeiro 05, 2012

Eu sempre acreditei em algo a mais, geralmente de forma lógica e clara. Mesmo quando criança, quando mamãe falava que eu deveria ser bonzinho pois o Papai Noel estava vendo, eu não conseguia dormir direito, mergulhado na paranóia de um velho obeso e pedófilo me observando. Eu acho importante questionar as coisas.

Daí andei pensando no quanto nos tornamos invulneráveis as coisas do mundo. Parando para analisar porque não é mais horrível ou assustador ver na televisão que um político roubou milhões, que assaltantes mataram oito pessoas e, claro, conseguiram fugir, que um algo-bomba explodiu no Oriente Médio e matou 40 civis, que mesmo depois de Michael Jackson, Che Guevara, Amy Winehouse e James Belushi, a Hebe ainda vive. Mas principalmente por quê nos tornamos insensíveis não só ao que chispa ao nosso redor mas também ao que sentimos por dentro? Depois de uma certa idade ou de alguma experiência horrorosa não queremos mais conhecer pessoas. Queremos conhecer a pessoa perfeita. Perde-se no oblívio a adrenalina de descobrir alguém, de encontrar novidades a cada semana, de desfrutar do prazer de algo inesperado. Queremos saber imediatamente se esta pessoa é um casamento em potencial. Se irá longe. Caso a primeira conversa, onde tentamos extrair o máximo de informações prioritárias possíveis, não vá como imaginávamos, é praticamente sair pela porta sem apagar a luz. Joga-se tudo pro alto e dizemos para nós mesmos que a pessoa tinha algo que não batia.

Talvez por medo, ou pior, pavor absoluto de passar pela mesma merda novamente, ou talvez por falta de tempo, queremos que a próxima pessoa importante em nossas vidas seja a pessoa com a qual você irá ficar velhinho junto. E quando digo falta de tempo é pensar que ficar solteiro aos 35 anos, por exemplo, significa que você se impõe a restrição de não se permitir mais namorar por namorar. Afinal, você vai conhecer uma pessoa, namorar por pelo menos 2-3 anos, ficar noivo(a) por mais 1 ano, casar e curtir por mais 1 ano pelo menos e aí sim resolver prestar atenção em ter um filho. Ou seja, preocupação em ser praticamente avô dos próprios filhos. E claramente isso é algo a se pensar. A vida é curta, temos que seguir um padrão aceitável para nós mesmos, para não ser cobrado pela pessoa que te absorve com aquele olhar de reprovação absoluta toda vez que você se penteia ou escova os dentes perante a pia do banheiro.

Assim, refletindo por minutos mais longos que os que passamos na sala de espera daquele dentista sádico que te atende de sábado, cheguei a conclusão que tudo isso é uma tremenda asneira. Caso eu tenha filhos, viverei até os 120 anos para vê-los crescerem. Caso eu encontre amor, vou me entregar como se fosse o último, mesmo que seja o primeiro. Caso eu perca tempo refletindo sobre o quanto eu sou ignorante, vou no cinema refletir sobre o gosto da pipoca.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

A primeira vez que eu li num livro sobre uma personagem que era casada, tinha um amante, o marido sabia e a opinião dele era "já que nem a natureza consegue separar a atração desses dois, eu deixo ela fazer o que tem de fazer e mantenho minha esposa." eu achei patético. Impossível existir duas pessoas que possuem tamanha atração entre si próprios e não ficarem juntos. Claro, se você pensar em guerras, países diferentes, traumas de infância ou coisa do tipo, fica até plausível, porém, tais personagens moram na mesma cidade, têm vidas normais, são pessoas normais. E na cabeça da mulher, ela mesma diz que seu marido é o amor da sua vida, é o cara que ela quer envelhecer do lado, mas o outro é um amor inconsequênte, ouso dizer diferente, é uma atração sem explicação plausível, um magnetismo absurdo que já existe há tempos. Seu amante não é um cara bonito ou mesmo super atraente e certamente não é carinhoso e prestativo, mas é brilhante, rápido e possui uma força mental, um foco em seu trabalho que são irredutíveis. Eles não iriam jamais conseguir ter uma vida feliz e dentro do padrão social como um casal normal. São muito diferentes para isso. Mas todas as vezes que se encontram, aquela vibração incógnita urge por algo que poderia deixar psicólogos dementes.

Isso não existe na vida real. Eles são personagens de um livro. Isso até eu conhecer uma garota.

Então eu paro para me perguntar por que diabos quando eu a encontro eu me sinto assim. Eu perco o controle, a identidade, a fé. Ela é tudo o que cruza minha mente como uma corrente elétrica de milhares de volts. Meu coração dispara e meus nervos à flor da pele querem muito mais do que simplesmente envolvê-la. Eu quero machucá-la só para poder cuidar depois. Eu quero respirá-la. Eu quero fazer parte dela. Eu queria entender a reação química que flui dentro do meu corpo e me tira do sério. Eu quero não ter a ciência de que não pertencemos um ao outro, de que parece ser impossível formarmos algo duradouro.

Fato, o mundo jamais irá permitir que fiquemos juntos.
Fato, eu a amo mais do que um dia conseguirei compreender.

quarta-feira, outubro 27, 2010


Eu considerei o fato de você ser completamente fora do meu padrão, assim, você sabe, não é possível, que você é linda. Talvez não linda como as modelos falsas de capa de revista, aquelas cuja dica de beleza é um banho de água mineral, batom Revlon, peeling, rímel importado e photoshop. Você é linda pelo seu sorriso ridículo, pelo jeito que você ainda fica vermelha quando o assunto é sexo (mesmo você tendo quase 30 anos na cara), pela tossida suave e franzir as sombrancelhas no primeiro gole de uísque. Não vou nem comentar sobre o jeito que você engrossa a voz e diz 'pára com isso' quando eu corro as unhas na base das suas costas. Quero morder você, ali mesmo. Enfim, eu considerei tudo isso quando fui falar com você e por mais que você ache mesmo que eu seja super extrovertido, eu estava morrendo de medo. Achava você demais pra mim. Mas eu fui lá falei o que eu sentia e o que eu sonhava. Não era um xaveco barato, não era uma linha de entrada, não era querer trepar no fim de semana. Era você e se não fosse você não seria mais ninguém. Eu não queria um relacionamento sério no primeiro beijo, mas também não queria um one night stand.

Então, sendo que você foi, sem sombra de dúvida, a razão de um dos meses mais bacanas da minha vida, eu tenho que me perguntar como caralho, e reitero, como CARALHO você foi tão filha da puta? Certamente não foi pela falta de dinheiro, pois toda santa vez que a gente saiu você nem olhou pra sua carteira. Com certeza também não foi pela falta de carinho pois eu fui aquele imbecil que fazia o que você queria (por prazer e não pau-mandaísmo), escolhia a pipoca que você gostava pra acompanhar o filminho no sofá de sábado. Creio eu que não foi pela falta de sexo ou mesmo por performance, pois, ou você é uma tremenda mentirosa e atriz digna de oscar, ou uma tremenda tapada por não me dizer o que e aonde você queria. Talvez você realmente nunca esteve livre do que sentia pelo seu ex, aquele bastardo sem mãe (que ele pegue gonorréia e passe pra você) e me usou como um rebound fuck ou ainda você seja tão fucked up da cabeça que prefere um cara que só te chute e te trate como a vagabunda que você prefere ser (o que na verdade agora já to quase concordando com ele). Sério. Você não deve ter tido colo quando criança.

E o que mais me irrita não é o fato de você ter voltado com o próprio Füher da sua (extensa) carreira de namorados nem o fato de você ter me deixado da forma mais escrota possível (mensagem de texto) ou menos ainda descobrir depois de duas semanas que você literalmente deu pra ele na última semana ainda comigo. O que me irrita é que eu ainda não esqueci de você e ainda tenho essa saudade maldita da sua boca envolvendo a minha como naquela noite de chuva, seus braços em volta do meu pescoço, sua gargalhada espontânea, a sensação clara de estar com a pessoa que eu amo e saber que eu poderia morrer no seu colo que eu morreria feliz. Eu me pergunto nas noites solitárias o que eu fiz de errado com você e o que eu poderia ter feito de diferente. Será que eu devia ter te tratado mal? Será que eu devia ter te machucado? Será que eu devia ter deixado 200 paus na cabeceira toda vez que saí do quarto?

Mas depois de toda essa indagação, depois de tentar descobrir o que deu errado, a resposta é sempre a mesma.

Porque eu amei você mais do que amava a mim mesmo.

E o Catedral que se foda.

quinta-feira, setembro 09, 2010


Ele a conheceu num momento em que sua vida estava estática. Trabalho entediante, namorada entediante, apenas um par de pessoas sériamente perturbadas para chamar de amigos. Ela tinha o rosto de um anjo. Uma voz que fazia Schubert parecer um zumbido irritante. Seu sorriso cortava o ar de todos à sua volta. Seu corpo, uma obra prima natural da criação.

Eles começaram a sair juntos, apenas para conversar. Ele mergulhava em seus olhos enquanto ela falava, perdido em pensamentos indiscretos. Ela não se importava. Talvez ela soubesse o efeito que sua presença causava nele, mas isso a fazia se sentir protegida. Guiada. O primeiro beijo foi etéreo. A sensação elétrica de duas almas feitas uma para a outra, se encontrando finalmente no mundo caótico onde vivem. Ele se separou para ficar com ela. Ele foi feliz por meses, adorando-a cada minuto. Até conhecer uma outra mulher.

Ele saiu as escondidas com esta outra, encontros ardentes em motéis afastados, por mais de um ano. Mas nunca deixou a garota que tanto amava. Nunca contou a verdade, também. O cortejo e a proibição tornavam seu affair irresitível à sua natureza romântica. Ele precisava daquilo. Era mais forte do que ele. Amor nunca lhe fora suficiente. Ambas capturaram seu olhar de formas diferentes, mas tão intensas, tão irrefreáveis. Algo devia ser feito. Ele tinha de contar a verdade.

Hoje, sozinho por mais de quarenta e três anos e beirando a sanidade, ele se encolhe em uma cadeira da casa para idosos onde vive, balbuciando seus nomes como um mantra religioso. Chora aos soluços quando vê uma jovem passar pela rua, observando-a pela janela do quarto, arranhando o vidro embaçado com sua respiração ofegante. Lembranças insólitas de amores incompreensíveis, regadas pela culpa de amar demais. Arrasado pela honestidade sincera que o separou de ambas suas figuras imaculadas.

Quando entrei em seu quarto ele me perguntou, limpando as lágrimas do rosto:
-Você acha que só temos direito a um grande amor em nossas vidas?

E eu disse da forma mais sóbria que pude encontrar, para fazê-lo entender sobre a diversidade social como um todo:
-Não sei, senhor. Eu só trabalho aqui.

quinta-feira, julho 15, 2010


Eu não tenho falado muita coisa pois acho que meu pai me ensinou o orgulho antes de me ensinar a ser humano. Mas eu gostaria que você soubesse que eu entendo. Que eu estou aqui. Que eu ainda sou eu.

Quando eu saio pra jogar com os meus amigos e você não fala nada, quando você encontra umas unhas do pé perdidas no tapete do banheiro e não reclama, quando eu durmo no cinema assistindo Sex and the City e fico de mal humor por não ter assistido o Ninja Assassino 4 e mesmo assim você pergunta o que eu quero jantar, quando eu mal te beijo antes de ir trabalhar ou volto estressado e você me abraça sem retorno, quando eu compro aquele treco de tecnologia por centenas de reais e uso uma semana mas reclamo de você pagar um quinto do preço num par de sapatos e você deixa eles na prateleira em silêncio, quando eu me irrito com a espera da porra dum restaurante no dia dos namorados e você só queria ficar do meu lado no boteco da esquina, eu gostaria de dizer que eu TAMBÉM te amo.

Eu também percebo. Eu também sei que eu deveria agir de uma outra forma. Eu também sinto saudade. Eu também queria ser mais homem para corrigir meus erros, sem saber como corrigi-los. Eu queria que você soubesse que eu sinto muito, as vezes.

Pelas vezes que eu esqueci uma data importante, mesmo que ela fosse mais uma jogada de marketing pra vender mais tranqueiras, que eu sai pela porta esbravejando, que eu disse que tinha sido só umas cervejas, que eu jurei que achava que era mais cedo, que eu fechei a cara pois já estava esperando há meia hora, que eu não amoleci com seu sorriso, que eu não te beijei pra você aprender a não discutir comigo, que eu não entendi as coisas que você gostava, que eu não fui pra balada com você por não gostar da música, que eu não estive do seu lado por achar frescura, que eu não sai mais cedo do trabalho pra ficar mais cedo do seu lado, que eu fiquei no computador até tarde, que eu fui um cretino ao invés de ser o cretino, que eu inventei uma desculpa pra sair sozinho, que eu menti com quem que eu estava, que eu não soube te segurar como você esperava, eu gostaria de dizer que eu SINTO MUITO mesmo. Me desculpa.

E é pela absoluta falta de resolução em dezenas de coisas na minha vida que eu olho em volta e vejo a única delas que está resolvida: eu amo você. Ponto.

segunda-feira, maio 31, 2010


Eu saio do Shopping Paulista com três sacolas de coisas que eu comprei por nenhuma razão aparente, só para me sentir menos revoltada com a vida, mesmo sabendo que a fatura do cartão no mês que vem vai ser uma foda mal dada, tentando equilibrar a sensação de querer matar todo mundo até descer pra mim, quando, óbvio, dou de cara com ele. O puto estava de tênis claro, calça jeans clara que eu dei pra ele e uma camisa branca jogada no corpo, do jeito que eu amo de paixão, com aquela cara alegre, como se ele fosse o único filho-da-puta feliz no mundo.

-Ei! Nossa, tudo bom? - pergunta ele, em genuíno espanto, abrindo aquele sorriso torto dele, iluminando tudo num raio de três metros. Que ódio. Eu queria largar as sacolas e colocar minha língua na boca daquele maldito.

-Oi! Que surpresa. Tudo bem? - respondi sorrindo - O que anda fazendo de bom?

-Nada de novidade. Trabalhando, pagando o aluguel, saindo muito pouco. Curtindo mais ficar em casa.

Maldito. Ele fala isso só pra me fazer me sentir uma vagabunda por ter arrumado um outro namorado três meses depois de a gente ter se separado. Mas o que ele queria que eu fizesse? Ficasse sozinha? Claro que não vou fazer a vontade dele. A última coisa que eu precisava era que ele arrumasse uma piranhazinha qualquer e eu fosse obrigada a ver os dois de carinho pra lá, beijinho pra cá.

-Ah, imagino. Eu também. As coisas estão muito bacanas. Fui promovida. E... enfim. Está tudo bem.

-Que gostoso. Fico feliz em saber que você está bem. E pelo visto ganhando bem também - e ele dá uma risadinha deliciosa, como se estivesse me provocando. Ele sabe. É claro que ele sabe que eu compro coisas quando to me sentindo uma merda. Ele tem que saber. Apesar que se ele tiver o mesmo déficit de atenção que tinha antes é capaz que não saiba mesmo. Cacete, eu devia ter tido mais paciência. Não devia ter terminado com ele por besteira. Quer saber? Devia sim! Eu mereço um cara que me dê atenção full-time. Ele só podia ser menos charmoso nessa simplicidade arrogante, que ódio. Por que ele sorri desse jeito e trata a vida como se fosse uma brincadeira? Não. Eu preciso de um homem, sério, que me leve a sério, que queira crescer junto comigo, não um garoto super engraçado e charmoso e que cada vez que sorri eu quero morrer no colo dele.

-Sim, he he he. - dou uma risada sem graça, enquanto sinto meu coração querer vazar pela boca. - Vamos inclusive viajar para a Califórnia em outubro.

-Ah, que bacana. Eu quero muito conhecer a Califórnia, você lembra. Pena que não sou eu do seu lado. Mas, é a vida. Tenho certeza que vocês vão se divertir bastante.

E por que raios ele sorri? Ele tinha que estar todo meloso, pedindo desculpas! Não falando que queria que eu me divertisse! Saco! Por que diabos ele é tão complacente!? Por que diabos ele não me agarra pela cintura, me beija daquele jeito e briga por mim?! Tá vendo por que eu me separei dele? Ele não luta pelo que ele quer! E fica insinuando que queria estar comigo mas a primeira surtadinha que eu dou ele é complacente? Poxa, dá na minha cara e manda eu parar quieta! Quer saber? Se eu estou com outro cara, mesmo que não seja metade dele, é por que ELE deixou que eu fosse. É por que ele não soube me manter. Estou bem. Posso não estar acordando todo dia com esse sorriso maldito mas estou bem. É a vida mesmo, seu infeliz.

-Eu lembro sim. Mas não se preocupe, você vai um dia com alguém especial.

-Eu não me preocupo, pode ter certeza. Mas não tenho pressa. Afinal, ainda preciso conhecer essa pessoa especial.

Ahhhh, você está de brincadeira comigo que ele vem falar que "ainda precisa conhecer essa pessoa"! E eu então não fui especial na sua vida, cretino? É isso que ele tá insinuando? Não é a toa. Quer saber? Melhor decisão da minha vida terminar com ele. Eu falo que ele ainda vai conhecer alguém especial e ele me fala algo diferente de "você é minha pessoa especial" ele merece ficar sozinho mesmo. Solteiro. Saindo com qualquer vagabunda de fim de semana só pra não ficar mofando em casa. Quer saber? Chega.

-Espero que você esteja bem mesmo, Caco. Mas eu tenho que ir agora. Atrasadérrima.

-Ok, foi bom te ver. Bom saber que você está bem. Beijo.

Impossível. Ninguém pode ser tão apático. Eu chamo ele pelo nome carinhoso que eu chamava e ele não esboça nenhuma reação? Que diabo é esse? É isso mesmo! Fiz certo em terminar com ele. Falo que estou atrasada e ele não vem com nenhuma desculpa para tentar me manter alí, percebem? Ele não saca as coisas que eu quero. Nunca sacou. Ou talvez ele saiba que eu esteja indo para casa ficar sozinha esperando paciente o outro infeliz chegar com aquela cara de "nossa, trabalhei demais hoje". Não. Ele não sabe. Ele não é para mim. Ele se foi e passado é passado. A única coisa que realmente me incomoda, que me tira do sério é essa vontade de chorar que eu não sei da onde veio.

Written by: Verônica Prata

sexta-feira, maio 14, 2010


Observar é bom.

Observo o mundo passar. As pessoas viverem ao meu redor. As rotinas, os trabalhos, os romances, a vida em si. Tudo encaixado num padrão civilizado, construído há tanto tempo. Observo o normal. Ainda assim, tenho a sensação, o alucínio, talvez, de que algo está errado. Na minha cabeça não faz sentido esta normalidade, esta aceitação de que tudo está OK. Basta ligar a televisão, ouvir o rádio, abrir o jornal, dar bom dia para um desconhecido que eu percebo isto. Algo está errado. Algo que eu não sei o que é. Algo que vive por trás do olhar inocente da sociedade moderna. Uma corrupção latente. Uma raiva incógnita no fundo da respiração. Como se todos ignorassem por completo o fato estampado de que o mundo não é legal. De que as pessoas não são decentes. Vejo isso todo dia. Em todo mundo. Pessoas ignorantes ao mal que elas mesmas criaram, que elas mesmas ignoram. Meu sangue ferve com o mesmo ódio impuro quando vejo o quão estúpidas as pessoas são, o quanto elas sorvem com gosto o mal que as cercam e fingem que está tudo bem, que isso é normal. As piadas sobre padres pedófilos, os desejos de tortura para com o estuprador, a sede de vingança do injustiçado, a vontade pervertida do tímido, o olhar de desespero da dona de casa. Mas não precisa se preocupar. Isso é normal.

Normal é bom.

Ninguém quer ser isolado. Todos precisam pertencer a um grupo. Lamber as etiquetas. Ser diferente para ser igual. Para ter o assunto, para ter a mulher, para ter amigos, para ter vontade. Para ter vida, ser normal é a única coisa necessária, mesmo que isso destrua cada pedaço de quem você é de verdade: este serzinho egoísta e imundo criado pela máquina humana. Este torcedor fanático que desde um ano de idade já foi travestido de palhaço pelo pai, este empregado mediano que vendeu os sonhos por dinheiro, este amante meia-boca que não suporta a esposa mas morre de medo de definhar sozinho num quarto bege de hospital, esta pessoa imbecil refletida no espelho embaçado do banheiro. Você não presta e você sabe disso. Você mente para si mesmo todo santo dia quando levanta de manhã usando a desculpa porca que é isso que todo mundo faz. Sabendo que seus valores e códigos morais iriam para a casa do caralho se você passasse fome, se ameaçassem sua cria, se te acuassem num canto escuro. Você mente, mas não precisa se preocupar. Todo mundo mente.

Mentir é bom.

Você não pode dizer para as pessoas o que realmente pensa delas se quiser continuar vivendo em grupo, afinal. Todo mundo mente. Mentir é sociável. Assim como cobiçar a mulher do próximo, roubar, matar e se divertir com violência na televisão. Alugar secretamente aquele filme de fetiche onde a garota apanha, sofre e é humilhada para o bel prazer de três caras fingindo serem sádicos. Satisfazer sua curiosidade mórbida sem assumir para o mundo que a única diferença entre você e um certo Josef Mengele é que ele foi pago para experimentar. Fingir fechar os olhos ao assistir na internet o vídeo daquele piloto se estraçalhando num acidente de carro. O soldado ter a cabeça decepada por uma facção islâmica. A pop-star mexendo a bunda na frente da câmera e dizer que ela é gorda para mascarar sua vontade incoerente de foder cada centímetro dela. Tentando esquecer todas as vezes que você pensou em fazer algo que sua cabecinha doente queria, mas foi negada simplesmente por imaginar as consequências. Medo do que ia acontecer com você, não honra ou amor pelo alheio. Medo. Medo do que o resto dessa espécie falha faria com o indivíduo diferente. Cuspir no olho social não é bom, mas certamente é necessário. Então vamos lá. Vamos matar alguém, vamos destruir algo lindo, vamos ceder abertamente à luxúria. Deixar a vida mais interessante. E eu não vou contar para ninguém, não precisa se preocupar. Afinal, eu sou um de vocês hipócritas.

Hipocrisia é bom.

quarta-feira, março 17, 2010


Já eram mais de uma da manhã quando ela resolve parar para ver uma vitrine. Nem lembro qual loja era. Disse qualquer coisa com as palavras "cerveja" e "duas" na mesma frase, fazendo o gesto corriqueiro com a mão, gritando um "opa!" e se equilibrando de volta em cima do salto. Eu fiz sinal com a cabeça e entrei na primeira porta acesa que vi, na esperança embaçada de comprar mais duas latas. Porra, terça feira e a mulher me fazia beber daquele jeito. Tirei 20 paus da carteira e pedi um par de alegrias momentâneas envoltas em alumínio, que contribuiríam certamente para meu desejo de eutanásia no dia seguinte. O truculento barman daquela pocilga medieval codinomeada padaria na Rua Augusta pegou meu dinheiro como se fosse um cafetão decepcionado com meu rendimento diário. Nem prestei atenção nos tipos mais do que esquisitos ao meu redor, pois primeiro eu estava bêbado, segundo eu estava admirando o pôster-calendário da Rita Cadillac, datado de 1986, pregado no azulejo azul-gordura da parede e terceiro pois eu tenho ciência que aquela rua é mesmo um para-raio de gente estranha. Porém, fui acometido pela repentina urgência causada pela ingestão de dois litros de cerveja e me senti na obrigação de perguntar para o peludo chapeiro de regata que fritava um ovo cabeludo na placa tórrida de aço coberto de especiarias indiscerníveis, que ele chamava de local de trabalho, onde era o banheiro. Ele apontou para os fundos de tal masmorra com a própria espátula, num movimento rude e veloz. Lembrei de Sir Isaac Newton quando pela Lei da Inércia um resto de ovo picado escorregou de tal instrumento de direção e fez sua trajetória parabólica, porém invisível, até o prato de um pobre descuidado, que escrevia em seu celular uma mensagem de texto, aterrisando harmonicamente entre o hambúrguer e um pedaço de batata frita.

No cubículo apertado, baixei o zíper cuidadosamente, pegando aquilo que encntrei na cueca com cuidado e puxando para fora somente os mínimos centímetros necessários para não sofrer da necessidade de trocar de meias, chocado em silêncio desgostoso pela falta de higiene do ambiente. Enquanto meu corpo produzia o arco líquido que atingia a medonha pasta escura dentro do vaso, eu tinha os olhos acorrentados a um par de insetos marrons grandes que discutiam a relação numa fresta da janela opaca, sentindo o pulmão começar a doer por segurar o oxigênio preso em si por tanto tempo. Soltei o ar devagar, amaldiçoando a quantidade de cerveja ingerida, pois eu iria ter de respirar mais cedo do que eu desejava, ou melhor, do que seria salutar para minha integridade física. Felizmente, uma distinta garota que trajava apenas um trio de peças de roupa em toda a extensão de seu corpo tatuado, fez-me recordar que eu não havia trancado a porta, abrindo-a com convicção. A lufada de ar gerada por tal afronta à privacidade desamparada, permitiu que eu respirasse fundo uma vez mais, meneando a cabeça para o lado, logo em seguida, tentando em gesto mudo explicar para tal invasora que o banheiro estava ocupado. Ela fez um gesto confortável de desdém impaciente, ao fechar a porta de sopetão, murmurando palavras que se assemelhavam à um advérbio de intensidade muito comum e ao alvo de minha incontingência urinária. Então possuidor de mais alguns preciosos segundos de oxigênio, teria me demorado mais para apreciar a completa desenvoltura de minha vontade fisiológica, caso não tivesse voltado o olhar para a janela e reparado em pânico doméstico, que o casal de tijolos voadores não estava mais na beirada da janela. A expressão masculina "não adianta chacoalhar que o último pingo é da cueca" fez-se literal em demasia, devido ao súbito movimento de "aperta-balança-guarda" que a seguiu. Retornei ao balcão de tal espelunca, zigue-zagueando pelas pessoas que sorriam ao admirarem minha camisa branca de micro-fibra gentilmente se expondo através da braguilha aberta de minhas calças pretas. Corrigi tal engano fashion ao mesmo tempo que agarrei as latas com uma mão só e peguei os dez reais de troco que o halterofilístico atendente se dispôs a me entregar.

Mas foi só quando eu coloquei os pés na calçada que eu percebi a tamanha asneira vitalícia que eu estava fazendo. Ao correr os olhos pela beldade imprevista sentada na calçada, esperando entediada sua latinha de cerveja, em plena semana de trabalho, sendo uma porra-louca impulsiva e espontânea como nunca fora. Afinal, nos conhecemos casualmente há tanto tempo, esta era apenas a primeira vez que saíamos juntos, vai saber por quê. Eu não tinha certeza que eu queria ela para mim, correndo meu pensamento em quando eu iria dizer para ela que só desejava uma noite casual, mas que jamais idealizaria ferir seus sentimentos. Fui interrompido no meio de uma frase auto-explicativa por uma boca maculada de cigarros de menta, presa a um corpo que agarrava meu casaco para se levantar. Desgrudou os lábios umedecidos dos meus, arrancou à força uma lata gélida da minha mão, abriu-a com vontade, descascando o esmalte escuro das unhas, virou um demorado gole garganta à baixo e me disse baixinho: "Dorme comigo hoje."

Eu dormi. Eu durmo. Eu dormirei.

segunda-feira, janeiro 11, 2010


Não sei se pelo silêncio da madrugada ou pelo simples fato de respirar a vontade incandes... incandecen... incandesçen... a vontade que queima dentro de mim que eu... quer saber? Feliz 2010.

2009 passou. Passou. Deixo de lado os verborrágicos verbetes de relacionamentos passados - ou mal passados - e sou eu mesmo. Digo para o mundo que a só escrevo de madrugada pois - provavelmente - estou bêbado e queria fazer mais coisas do que o mundo deixa. Afirmo ao mundo que nos cerca que ele é sujo mas mesmo assim eu gosto dele. Aponto para aquela pessoa que ainda não sabe o que fazer e digo "Vai se foder!" com todas as palavras muito bem articuladas. Eu quero gritar o que eu tenho vontade! Eu quero tudo, eu quero nada, eu quero uma overdose de você só pra ter certeza que eu te odeio. Eu quero amar sem ter responsabilidade e não ter de deixar dinheiro na cômoda antes de sair do quarto. Quero cuspir tudo isso e quero que me entendam. Quero chorar baixinho e receber mimo sem ter de pedir. Quero gastar o que eu não tenho. Quero destruir o seu sorriso com minha boca cheirando a bebida cara. Quero ser eu mesmo e foda-se quem se importar.

Passou. Passou. Agora eu quero ser sério. Eu quero um futuro decente com filhos e uma esposa sorridente. Eu quero um emprego estável e não ter de correr riscos desnecessários. Quero aquele cartomante que me indicaram, pois ele só fala coisas boas. Quero assistir o Jornal Nacional no colo dela e lembrar de comprar a Cláudia desse mês para deixar na mesa da sala. Preciso também lembrar de escrever o cartão de aniversário da minha sogra, que é um doce de senhora. Quero não querer encher a cara com meus amigos para manter o bem estar social dentro de casa. Quero não me preocupar com o IPVA. Quero que o motorista do taxi dirija devagar. Quero ser eu mesmo e me importar com o que pensam de mim.

Passou. Passou. Quero resistir às tentações ao me entregar a elas. Quero apertar o pescoço dela até eu achar que já é suficiente. Quero frequentar a igreja todo domingo. Quero rasgar suas roupas com a boca e embebê-la de uísque importado antes de sorver seu corpo. Quero economizar dinheiro e parar de fumar. Quero trepar loucamente sobre uma mesa de sinuca, perante um público horrorizado. Quero visitar mais minha família e ouvir as estórias da minha avó. Quero ganhar muito dinheiro e gastá-lo de forma inconsequente. Quero ser medíocre e viver em paz. Quero lamber as grades de uma prisão feminina. Quero ser eu mesmo, sem me importar em se-lo.

segunda-feira, novembro 02, 2009


É a falta de comentário desnecessário que me faz pensar que o mundo não foi feito para pessoas como eu. É saber que é quase uma impossibilidade matemática encontrar um homem com o quesito "macho" e o lance "carinhoso" na mesma pessoa. É saber que é estético eu beijar outra mulher mas quando o cara diz que gosta de ser "invadido" me causar aquela ânsia costumeira de uma noite cheia de tequila.

Não é a falta do beijo incandescente ou ainda o fato de eu estar a milhas de distância do cara que eu realmente deveria - por razões X - estar com. Ou ainda pela incompetência ideológica de ser exata e ainda assim plausível a decisão de ficar com quem eu, como menina carente que mamãe criou, na verdade não gosto. Por mais que ele tenha seus surreais motivos de me tratar como ninguém nunca ousou e querer, no âmago da espécie feminina que sou, que ele continue assim mas com um toque de sazón que pouquíssimos homens, desculpe, pouquíssimos seres portadores de pênis possuem. Não basta ser macho, não basta ter o devaneio contínuo da incontingência testosterônica pós adolescente, tem que ser "homi".

É como entrar na Bloomingdales com 50 mil dólares na conta e não encontrar nada que me apeteça. É querer estar na Renner do shopping Morumbi com 100 paus e comprar aquela blusinha que é a sua cara. Ela não vai me levar pra jantar, ela não vai me trazer orgasmos múltiplos, mas ela vai encaixar nesse corpinho que eu custo manter, como uma luva na mão do Edward Scissor Hands. So fucking perfect you can twitt about it.

Dá-se então toda a vibração de escrever sobre o que não deveria ser escrito. De ter a certeza incerta de querer um cara que faça terapia mas não que precise dela. Afinal, aquele beijo que a gente lembra - mesmo - não foi produzido pelo dono do Porsche, pelo cabeludo de corrente no pescoço ou ainda pelo aluno de intercâmbio mexicano que tinha um "membro" do tamanho e espessura de um tubo de rímel - dos baratinhos - mas sim, por aquele cretino que um dia apareceu na nossa vida e a gente não encontra uma razão coerente para não ter rolado nada além dum affair simpático.

É por isso que eu insisto que o melhor adjetivo para um relacionamento é o "confortável". Não é demais, não é over, tá longe de ser uma bosta, mas é confortável. Ele não me domina, mas também não me destrói, mas também não me leva ao firmamento erótico, mas também não repete o meu "mas também". Ele é OK, ele é crível, ele é realista sem ser fucked-up, ele é como cozinhar com o Jamie Oliver: nada muito complexo, mas precisa ter uma certa noção do que tá fazendo.

Vivendo então essa vida metafórica - e por vezes até eufórica - que minha paranóia incansável reclama solene das péssimas escolhas que eu fiz na vida. Sou over, sou inconsequente, devia ter tido decisões melhores, mas sou mulher e isso explica tudo. Ponto. Não gostou? Pega a senha.

Written by: Verônica Prata, inspired by posts of @lini on Twitter.

terça-feira, outubro 20, 2009


-Oi, ãhn... linda, eu sou péssimo nisso então vou direto ao ponto: achei você muito interessante e gostaria de convidá-la para jantar.
-Por quê eu iria jantar com alguém que é péssimo em jantar? Você baba quando mastiga?
-Não! Eu digo que sou péssimo nesse lance de flertar.
-Flertar não é um lance. Você não lança algo. Lançar é jogar longe. E quem disse que você estava flertando? Você me convidou para jantar. Isso é flertar?
-Bom, claro, achei que fosse romântico chamar uma garota pra jantar.
-Jantar é só um jantar. Talvez tenha sido romântico um dia. Hoje, nós estamos acostumadas a receber muito mais do que um convite para nos deixar gordas. Você quer me ver gorda?
-Linda, isso é impossível.
-Você querer me ver? Eu ficar gorda? Por quê? Já estou gorda né? *suspiro* Vocês homens não entendem MESMO uma mulher.
-Não! Pára de distorcer tudo o que eu falo. Só queria convidar você para jantar pois gostei de você! Estou sendo sincero! Sinceridade conta!
-Sim, sinceridade conta. Tanto conta que eu já estou pensando numa desculpa para pular sua tentativa de me ver gorda. Ainda mais pois você agora assume que gostou de MIM: do meu corpo, do meu rosto. Você não disse que queria jantar comigo por causa da minha personalidade e inteligência por exemplo.
-Porra, por que eu iria querer jantar com você se você fosse uma puta chata? É claro que é por causa da sua personalidade! Eu gostei de você! Achei você interessante!
-Vixi! Agora que eu vou ter de negar mesmo. Começou com "linda" e agora já baixou para "interessante".
-Não é isso! Você mesma falou que não gosta da insinuação que eu só quero o seu corpo! Nenhuma pessoa tem um "cérebro lindo" afinal. Interessante engloba todos os aspectos da sua personalidade!
-Então você acha que eu sou uma nerd que não faz outra coisa a não ser reclamar de "economia" por exemplo? Se você quer ser sincero, diga que viu, não que achou, mas que viu e apreciou meus dotes femininos e meu caráter forte.
-Dotes femininos? Ninguém fala desse jeito!
-É por isso que tem tanto homem solteiro no mundo. Se eles fossem mais inteligentes e com um vocabulário melhor, estariam namorando. Vocês definitivamente não entendem mulheres.
-Por que diabos a gente está discutindo isso? Eu só quero te levar pra jantar!
-Você vai pagar a conta?
-Eu estou convidando uma mulher desconhecida para jantar, é óbvio que pelo menos a conta eu pago!
-Nossa... de linda, pra interessante e agora virei uma simples "mulher"... tsc tsc... amadores...
-*suspiro*
-O que vamos jantar? Eu não como qualquer porcaria. Uma vez meu ex me levou pra jantar no McDonalds. Não é a toa que virou ex né?
-*sai andando*
-Ei! Onde você vai? E o jantar? Vai desistir assim tão fácil? Por quê? Seja homem! Volte aqui! Ei! EEEEIIIIII!!!!! Humpf! Bicha.

sexta-feira, setembro 18, 2009


Com pálpebras trêmulas, eu te digo o quanto adoro você. Passo a mão no seu rosto de mármore, acariciando a estátua sólida que sorri para mim, dizendo que tudo vai ficar bem. Eu entendo. Vai ficar tudo bem. Sempre ficou. Você me ama. Eu troco qualquer coisa que passe neste corpo, que eu arrumo para você, para assassinar silenciosamente os pensamentos impúros e imundos que passam em minha cabeça. Eu não queria pensar. Eu não queria sentir. Eu queria trocar eu por você.

Com lábios ressecados, eu recuso. Eu aperto meu peito tentando refrear a vontade enlouquecida de sentir sua língua na minha boca. Você trabalha tanto. Você trabalha por mim. Eu quero um filho seu. Eu quero você. Mas eu entendo que você, como uma pessoa muito mais evoluída que eu, consegue ultrapassar as trivialidades para pensar no futuro. Você trabalha tanto. Eu sei que quando você tiver uma centena de milhar em sua conta, eu serei mãe. Eu sei que viajaremos sem nos preocupar. Eu só gostaria de ter a sua paciência e sabedoria. Mas não tem importância. Eu sinto em seu lugar a vontade de me tocar. Eu choro em seu lugar o desperdício das nossas horas juntos. Eu escondo minhas vontades loucas em seu lugar, para confortá-lo com um sorriso quando você chegar cansado. Eu me faço você. Assim você não precisa entender que sua vida sou eu por você.

Com mãos machucadas eu aperto a cortina da sala. Conto nos dedos as nossas últimas horas juntos e bato em mim mesma quando me pego criticando que as últimas 24 horas nossas se deram no último mês. Eu olho pela janela e imagino você dentro de mim, instável em meu coração. Aí percebo que seu coração sempre foi meu. E me odeio por não ser como você. Me odeio por querer fazer coisas de menina, por querer ter amor de cinema e por não ter a sua compreensão do que é uma vida direita. Eu quero morrer para te livrar desse peso. Para você encontrar alguém que te mereça. Quero dar a vida pela sua. Pois se alguém tiver de sofrer, que seja eu por você.

Com pernas bambas eu fecho a porta sempre que você me pede. Eu deito do seu lado e anseio por entender o que você faz. E me assusto toda vez que olho para você e você não está ali. Seu rosto ´banhado pela luz neon do computador não é meu. Seu corpo não responde ao meu toque. Sua alma deseja mais dinheiro para nós. Eu só queria passear. Eu só queria comprar o berço mais barato. Você nunca esteve realmente alí, não é? Sentada em enjoativo e apavorante silêncio eu me dou conta de que meu egoísmo beira a ignorância. Minha ambição por sensações e amor de conto-de-fadas é patética, perante nossa vida coerente. Mas pela primeira vez em minha vida, eu quero ser Janis. Essa sensação não pode mais ser controlada. Eu quero ser menina. Eu quero namorar. E se alguém tiver de voltar no tempo, que seja eu por você.

Com a voz mais lívida que consigo espremer da garganta eu digo adeus. Um adeus egocêntrico e sujo. Um adeus para mim. Um adeus à certeza. Um adeus ao luxo. Um adeus à vida real. Um adeus para alguém que nunca esteve ali. Não me arrependo, mas é provável que o faça nos dias que virão. Mas pelo menos quero me arrepender sem culpa. Esperei Peter Pan vir me buscar. Ele se atrasou. Eu não posso mais esperar. Perdoe-me, se for capaz, por pensar em mim. Por querer mais quando aos seus olhos eu tenho tudo. Mas espero que entenda que só sou assim pois não fui feita para o amor real. Eu não fui feita por Deus ou pelos meus amigos que você não suporta. Eu fui feita por você. E esse doloroso adeus fica. A solidão sempre teve tempo para mim. Está na hora de eu lhe dar ouvidos. E por adorar tudo o que fizemos sob noites sem estrelas, se alguém tiver de morrer...

...que seja eu por você.

"Imagine me and you, I do
I think about you day and night, it's only right
To think about the girl you love and hold her tight
So happy together..."
-- Turtle, Happy Together

Written by: Verônica Prata

quarta-feira, setembro 02, 2009


Foi em oneroso momento de subconsciencia irrefreável, recente, que ví seu rosto novamente. Estávamos em minha escola antiga, com pessoas que não faziam parte do metier à minha volta. Tudo um tanto borrado quando o seu rosto se destacou, sorrindo, como sempre tive de lembrar você, que é uma das melhores coisas que você sabe fazer. Por certo despertando em mim aquela sensação de alegria indiscreta quando se vê pessoa há tempos esquecida. Porém, diferente do que imaginava o comum pensamento quase presente, você beijou minha boca ao me cumprimentar. Eu afastei, atônito, com tantas perguntas em mente que resolvi não proferir sequer suspiro e voltei a beijá-la, como acredito que seja firme, delicado e marcante ao ponto de tirar seus pequenos pés do chão.

E tais segundos de louco êxtase foram suficientes para trazer à tona a desgraçada consciência e eu acordei. Sentado na cama ainda sentindo seus lábios entre os meus dentes. Sua cintura entre os meus braços, algumas mechas castanhas entre os meus dedos. Mas acho que foi sentindo a água quase quente do chuveiro bater em meu rosto e lembrar-me que você foi uma das pouquíssimas que escorreram por entre as minhas mãos, a batalha perdida. Como diria a vocalista do Cardigans, I lost my favorite game.

Eu cometi assumidos erros, mas não chorei ou me senti desolado pela falta de confiança característica, e por vezes devida. Eu sorri. Talvez intrigado com a remota possibilidade de tentar de novo, um dia, quem sabe? Existem pessoas que passam e se vão, conhecemos diversas delas. Mas algumas raras deixam aquele buraco inconformado que não deveria ter sido assim. Deveria ter sido diferente. Deveríamos ter vivido um filme em branco e preto. Mas não importa. Pois se rebobinarem o mundo, nós ainda vamos viver para sempre e você ainda pode ficar de chapéu.

My Fair Lady, there's no Love Among Thieves.

quarta-feira, agosto 26, 2009


Ódio este que talvez
de amor prejudicial que se fez
eu disse coisas para esquecer
meu olho no dele durante a partida
minha mão de culpa acometida
pôs a porta à bater.

Entumece a narina o vento
me envolve a raiva onde me sento
preenche-me o álcool do bar
sorrio para rostos que não são meus
perdão será presente de deus
piso na rua para fumar.

Das frases mal feitas da vida
as luzes dos carros na avenida
nele não acontece o ponto final
saber o que não quero
quando você todo sincero
vira notícia no meu jornal.

A culpa mais que o beijo é doce
por mais ácida que fosse
ele me foge a memória recente
ao ouvir sua inteligente besteira
molhando a boca sorrateira
quando você finge ser inocente.

É fato e por assim desigual
é uma superfície horizontal
onde a ponto de perder meus medos
me sinto morta por um triz
ouso respirar feliz
e desmaio nas pontas dos teus dedos.

Written by: Verônica Prata


Enquanto ela gira sobre os próprios pés e incansavelmente produz sons entre as frases de consequência duvidosa, ele olha para ela e tenta em vão se explicar. Não é tão fácil assim, tornar um monólogo num diálogo.

-E não é que eu não gosto que você sai com seus amigos. Eu gosto. Mas sei lá, as vezes eu não tenho nada pra fazer e quero ficar junto com você. Não que só quero ficar com você quando eu não tenho nada para fazer, mas eu sou mulher, entenda. A gente sente carência forte quando tá sozinha. Não to dizendo também que você é responsável pela minha felicidade ou ainda pelo meu tédio. Só acho que você podia estar mais presente as vezes que eu preciso.
-Baby, só imagina que...
-Eu sei! - interrompe ela - Posso parecer louca falando assim. Não louca. É querer ter alguém do lado 24 horas por dia? Não. Não é isso. To dizendo no sentido de ter uma companhia que acompanhe, sabe? Você por exemplo podia sair comigo sempre que quisesse. Eu não ia me importar. Então como você não fala nada eu não acredito que você queira. E já sei: você não quer atrapalhar quando eu saio com as meninas. Não é atrapalhar, é só esquisito mas eu não me importo. Acho que todo mundo precisa de um espaço, só queria que tivesse menos espaço entre nós. Sabe?
-Baby, eu entendo que...
-Ok! A gente não é casado nem nada. Mas a gente namora sério. E não vem com o papo de rotina que pra menina as vezes rotina é legal. Não é empurrar com a barriga como vocês falam. E eu só não fico mais do seu lado pois como você mesmo sabe, pra cada homem que se junta no mesmo bando todos os outros parecem perder uns 2-3 anos em idade mental. Põe uns dez caras juntos e vocês agem como crianças retardadas. Não que eu não me divirta com vocês, pelo amor de deus, é que as vezes a gente precisa de coisas a mais, sabe? Então é uma questão de rumo, de ter uma direção no relacionamento.
-Baby, mas eu não saio...
-Não é só sair, pelo amor de deus!Isso é só um exemplo. Não é você não gostar de atender o telefone ou beber e ficar daquele jeito. Acho que se rola um amor, um carinho, você não faria isso para não me magoar. Você gosta de mim, não gosta? Então eu não entendo suas atitudes as vezes. Não estou criticando, estou apenas comentando. Que pareço deslocada da sua vida. Sabe? Eu não quero, nossa, casar agora e ter oito filhos, mas queria poder entender o que acontece. Não sou a pessoa mais madura do mundo e também gosto de uma zoeira de vez em quando, mas tem limite. Não dá pra viver assim. Fui criada desse jeito, não vou mudar. Mas você é imprevisível e não consigo entender o que acontece na sua cabeça e se estamos no lugar certo e se vamos para um lugar certo e as vezes acordo de manhã e não consigo encontrar uma razão para eu estar com você e ...

Pouco antes de ele agarrar ela pelo pescoço com toda a força que conseguiu juntar nos dedos, bater-lhe com as costas na parede e quase deslocar seu frágil maxiliar com a própria boca, ele diz:
-Baby, shut the fuck up.

segunda-feira, julho 20, 2009


Não é engraçado ter uma mulher que não tem dente na boca. E não é por falta de dinheiro ou educação, é simplesmente pelo fato de que ela não se importa. Põe um amendoin, põe um M&M, sei lá, qualquer coisa, mas tapa essa porra! Mostre pra ele que você é mais você ao invés de se auto-denominar alguém que precisa de um monte de símbolos e apelidos num site de relacionamento para ser alguém! É por isso que não existem homens interessantes no mundo. Pois eles não se importam mais! Eles sabem que você não se importa se ele é uma besta, se a qualidade de mais destaque em seu currículum social é saber arrotar o alfabeto. Não é a toa que eles vêem para mim e dizem as mais escatológicas asneiras do planeta, pois provavelmente fizeram isso para outra e ela beijou aquela boquinha imunda.

Como diria uma amiga, me colore que eu estou bege! Não são os homens que não prestam! SÃO VOCÊS! SOMOS NÓS! Hoje eu preciso viajar milhas para tentar encontrar um homem que não tenha sido maculado pela "asneiração histérica" provocada por uma cidade entupida até a boca de garotas que preferem lamber o balcão de um bar da Augusta a terem que ir pra casa sozinhas. Ah! E lamber de ponta a ponta. Mas isso é somente na procura pelo cara certo, pelo cara que vai me tirar do chão mais rápido do que menstruação repentina, que vai enfiar neste meu dedinho vazio um anel de diamante um dia. Certo? Não. Pois quando o cara certo aparece a coisa piora.

Cansei de dizer para vocês, para o espelho e até para quem não merece ouvir que queimar sutiã foi muito legal, mas passou. Aquela época de ter seis mil exigências para namorar foi legal para nos dar nosso status, então o que aconteceu com os princípios por traz dele?! Ou não queremos porque ele tem alguma coisa ínfima que a gente detesta ou qualquer cueca bem preenchida (e as vezes nem isso) preenche esse vazio ridículo que preenche nosso corpinho de pastel de feira.

Peço desculpas por gritar, me odeio por fazer tudo ao contrário do que eu deveria. Nem sei o que eu deveria. Sei que preciso me consertar. Preciso arrumar o cabelo e dar um jeito na maquiagem, abrir uns dois botões do vestido e respirar fundo. Resumindo, me fazer mais apresentãvel. Preparar meu estômago para mais bebida. Respirar fundo e sair daqui pois Não-Lembro-O-Nome-Dele está me esperando na sala.

Written by: Verônica Prata


...impossível! - grita, ao jogar o cinzeiro imaginário de vidro na parede e fingir que escuta os milhares de cacos caindo no chão. Ninguém ousara até então uma manobra destas. Ela é linda. Ela é engraçada. Por que raios ele não apareceu? Vestira seu confortável vestido preto, sexy, mas ainda assim com um ar despojado, cool, atraente para olhos conhecedores. Trouxe consigo para casa uma bela garrafa de vinho, sonhando imagens das infinitas possibilidades que a noite poderia criar, quando passou com ela pelo caixa. Por quê ele não veio? O que mais um homem poderia querer numa sexta feira à noite? Ele não tinha que trabalhar, ele não tinha mais o que fazer, ela o convidou, ele disse que viria. Ele não veio. São dez da noite e ele não veio.

Ela respira impaciente e soluça de repente com o primeiro gole do vinho, que nem percebeu que acabara de abrir. Um telefonema teria sido delicado. Chamar ela com aquela voz que ele faz no telefone e dizer que quebrou o carro, que não encontrou o bilhete único, que morreu. Qualquer desculpa seria aceitável. Qualquer farrapo de evidência que a afastasse desta idéia de que ele não a deseja. Que ele prefere seus outros afazeres do que estar nos braços dela, apertando o corpo contra seu ventre, mordendo seus lábios, explorando sua boca... uma tossida rápida sugere a possível resposta num e-mail! Ele pode ter enviado um e-mail. As pessoas se falam demais através da internet hoje. Um e-mail. Um recado no MSN. Evidências. Evidências por favor.

Ela esquece o copo sobre a mesa de centro, sem apoio, mesmo tendo a certeza prática que vai deixar uma marca em anel irreparável na madeira. Só se importa com a tela brilhante e a mensagem dele. Mentira. Ela sente prazer em agarrar o pescoço da garrafa apertado entre os dedos e ter certeza que pelo menos de sua bebida ela tem controle. Mas a noite piora. Sua língua empurra um gole seco para dentro da garganta quando lê seu nome, online, no sistema de mensagens instantâneas. Sequencia este com outro beijo no gargalo, até ferindo levemente seu lábio superior no invólucro da garrafa. Ela digita frenética e com erros de português a pergunta: o que você está fazendo em casa? Por que não veio?

Ele mente. Ela reclama. Ele diz coisas imaturas. Ela bebe. Ele sugere que ela faça um strip via webcam. Ela surta. Se separa de seu contato com tecnologia por um longo momento e sorve tudo o que consegue para abafar a gargalhada sádica que urra dentro dela, apontando o dedo e lembrando-a de coisas infelizes.

Quando volta para o computador reconhece um outro nome. Uma outra pessoa. Ela digita bêbada a esmo e espera uma resposta. Esta demora, mas quando chega é como um bilhete só de ida, para um lugar melhor. Ela sorri. Este outro pede para ela ligar e contrariando tudo que acredita, ela liga. É tarde da noite mas a voz dele ressoa como...

terça-feira, junho 09, 2009

Acho que o que dói é amar mais uma memória do que já foi bom comigo que amar meu hoje. Que esperançar meu amanhã. Eu não quero estar aqui. Eu não quero chegar ali. Eu quero voltar. Eu tenho problemas. Eu sei. E em meus multifacetados devaneios de Alice eu encontro o que faz doer. O bicho-papão. O mesmo que me persegue desde quando eu coloquei um objetivo. Eu vou embora. Antes que eu realmente queira voltar.

Pulo uma linha pela causa estética. Não é o que eu quero. Eu não sei o que eu quero. Sei que isso não me agrada. Não me divirto com compromissos diários que tenho que realizar. Não gosto de dizer que é difícil ser menina. É mais difícil ser mulher. É mais difícil ser humana. Eu fumo um cigarro esperando que ele me mate como na foto que o acompanhe. Eu lembro de uma música do Smiths enquanto olho pra fora da janela, me sentindo perturbada quando percebo que me daria prazer ver o brilho angelical de uma bomba atômica explodindo silenciosa no horizonte. Varrendo a cidade das pessoas impuras e perdoando os meus erros até agora. As escolhas mal feitas que não tenho coragem de consertar.

Carência não se supre com chocolate ou flertando com estranhos. Nem com pessoas conhecidas pra falar a verdade. Eu beijei na boca. Eu devia estar feliz. Mas não estou. Na verdade, eu não estou. Não feliz ou triste. Eu não estou. Penso, logo existo uma ova. Eu penso demais para poder existir ao mesmo tempo. Eu quero ir embora sem sentir saudade. Eu quero que seja fácil enquanto me provoque uma reação de desafio. Eu quero mais do que penso, eu existo mais do que quero. A vontade de entrar para a história é translúcida perante o gosto de um amor opaco. Amor por mim mesma, amor por pensar e o ódio acarretado por não existir de verdade. Eu significo algo para alguém?

Meu devaneio me dá sono. Eu abro um livro para esquecer que ainda tenho horas de vida. Para ser outra pessoa. Para não ter de ficar. A escolha é fácil, é lógica. Mas eu não tenho bolas pra isso. Afinal de contas. É difícil ser menina.

Written by: Verônica Prata